Comemorado em 8 de agosto, o Dia Nacional de Combate ao Colesterol traz um alerta para os riscos de doenças. O descontrole do colesterol, por exemplo, pode levar ao infarto e a insuficiência cardíaca.
As doenças cardiovasculares são líderes de mortalidade no Brasil. Aproximadamente 14 milhões de brasileiros têm alguma doença no coração e mais de 380 mil morrem por ano em decorrência dessas enfermidades, o que corresponde a 30% de todas as mortes no país.
No Ceará, mais de 6 mil pessoas morrem todos os anos, vítimas de condições de saúde relacionadas aos níveis altos de colesterol no organismo, segundo o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.
O colesterol é um composto orgânico complexo vital para o funcionamento do organismo. Presente no sangue e em todos os tecidos, ele contribui para a produção do hormônio cortisol e dos hormônios sexuais, de vitamina D, de ácidos envolvidos na digestão de gorduras e também tem papel importante na estrutura e regeneração das células dos animais.
Embora a maior parte do colesterol nos seres humanos seja produzido pelo próprio organismo, ele pode ser obtido em alimentos como ovos, carnes e leite integral. Sua presença é indispensável para o funcionamento equilibrado das funções vitais, porém, quando em excesso na circulação sanguínea, ele pode trazer algumas complicações.
A mais comum delas é a formação de placas de gordura nas artérias que levam ao endurecimento e entupimento dos vasos sanguíneos, a denominada aterosclerose. Com a obstrução dos vasos, o coração recebe uma quantidade menor de oxigênio e nutrientes, tendo suas funções comprometidas e levando a doenças como angina, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e até a morte súbita. Quando acomete as artérias carótidas e cerebrais, pode levar até a acidentes vasculares cerebrais (AVC) ou derrames.
A causalidade entre a elevação do colesterol do sangue e as doenças cardiovasculares foi demonstrada em robustos estudos que envolveram mais de 800.000 indivíduos seguidos por até cinco décadas e esta relação indubitável é reconhecida em meios Acadêmicos sérios, pelas Sociedades Médicas, pela Organização Mundial da Saúde e agências regulatórias como o FDA dos EUA e a EMEA na Europa.
Fatores de risco
Segundo Ulysses Vieira, cardiologista e presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia Ceará (SBC-CE), alimentação rica em gordura saturada, excesso de peso, sedentarismo, consumo abusivo de bebidas alcoólicas, estresse, hereditariedade, idade e sexo, são fatores de risco para o aumento do colesterol ruim e possíveis complicações cardiovasculares. As mulheres costumam ter um aumento no nível do colesterol ruim após o início da menopausa.
Sinais, sintomas e diagnóstico
O colesterol elevado não tem obrigatoriamente sintomas. Em raros casos o excesso de colesterol do sangue pode levar a formação de nódulos nos tendões (xantomas) e manchas amarelas em volta dos olhos (xantelasmas). Na maioria das vezes, os sinais aparecem em consequência da formação das placas de gordura nas artérias, quando a situação já pode estar avançada.
Quando atinge as artérias coronarianas, levando à angina do peito e infarto do miocárdio, os sintomas mais comuns são dores no peito (peso, aperto, queimação ou até pontadas), falta de ar, sudorese, palpitações e fadiga. Nas artérias cerebrais, os sintomas neurológicos que levam ao acidente vascular cerebral podem ser formigamentos, paralisias, perda da fala e sonolência.
É fundamental avaliar os níveis de colesterol regularmente. Para aqueles que têm histórico familiar de doenças cardiovasculares precoces, ou seja, em familiares de primeiro grau do sexo masculino (pai e irmãos) e feminino (mãe e irmãs) que sofreram um evento cardiovascular respectivamente antes dos 55 e 65 anos, ou de colesterol alto na família, o acompanhamento deve ser feito desde a infância. A partir dos 20 anos, a medição deve ser de cinco em cinco anos. Caso esteja alterado deverá ser checado mais regularmente a critério médico.
O diagnóstico e o acompanhamento são feitos por meio de um exame sanguíneo, que avalia as taxas do colesterol total, do HDL-colesterol e do LDL-colesterol. Outro tipo de lipoproteína rica em colesterol denominada lipoproteína(a) ou Lp(a) pode ser determinada em casos de pessoas com doença cardiovascular precoce familiar, nos casos de hipercolesterolemia familiar, ou quando o LDL-colesterol não é reduzido de forma eficaz pelo tratamento com estatinas.
Tratamento e redução do risco cardiovascular
A intensidade do controle do colesterol com alimentação e ou medicamentos depende do risco cardiovascular do indivíduo. Em indivíduos de alto risco, principalmente aqueles que já sofreram um evento cardiovascular, em diabéticos, em indivíduos com vários fatores de risco associados, quando existe extensiva aterosclerose subclínica (presença de placas coronárias em exames como angiotomografia de coronária ou escore de cálcio) ou nos portadores de hipercolesterolemia familiar recomenda-se controle intensivo do LDL-colesterol (reduções superiores a 50% dos valores iniciais do indivíduo).
Em indivíduos com graus menores de risco o controle pode ser menos intensivo, reduções de 30-50%. Além de alimentação pobre em gorduras saturadas, com aumento no consumo e mono e poli-insaturados (óleos de oliva, canola e soja) recomenda-se mudanças no estilo de vida como cessação do tabagismo, atividade física regular e perda de peso se houver obesidade.
Existem medicamentos que atuam na diminuição dos níveis do LDL-colesterol, o colesterol ruim, e podem levar a um pequeno aumento nos índices do bom colesterol. Além das estatinas e ezetimiba (um medicamento que reduz a absorção do colesterol no intestino) atualmente estão disponíveis no Brasil potentes agentes biológicos que ajudam a reduzir o colesterol, estes últimos são denominados inibidores da PCSK9.
É importante enfatizar que quando bem indicados e em indivíduos sob-risco esses medicamentos reduzem de forma significativa o risco de infartos, derrames, necessidade de cirurgias cardíacas e angioplastias e até mesmo o risco de morte. O benefício será proporcional ao risco, ao tempo de tratamento e a redução do LDL-colesterol.
Os benefícios dos tratamentos superam em muito possíveis eventos adversos como problemas musculares ou risco de aparecimento de diabetes (estes vistos apenas com as estatinas em indivíduos predispostos).
Prevenção do colesterol alto
“A melhor forma de prevenir o aumento do colesterol ruim é aliar exercícios físicos à alimentação saudável, evitando o consumo exagerado de gorduras saturadas, óleos de coco e dendê, carne vermelha em excesso, gema de ovo, manteiga, laticínios, mortadela, salame, queijos amarelos e alimentos industrializados”, afirma o cardiologista.
A redução do consumo de álcool e a cessação do tabagismo também são indispensáveis para a manutenção da saúde e dos níveis de colesterol (cigarro reduz o HDL-colesterol). Entretanto, é importante lembrar que em indivíduos com predisposição genética a colesterol alto a dieta embora possa ajudar será insuficiente na maioria dos casos.